Medo de Dirigir

Hoje eu estava conversando com a minha irmã e indiretamente ela me fez pensar sobre o assunto. Tentei falar para ela sobre isso, mas não tive sucesso. Na verdade eu já falei, mas talvez eu não tenha explicado direito como é. De qualquer forma eu não falo, porque acho que é irrelevante para ela saber como eu estou. Ela não pode fazer nada a respeito, então pra quê né? Eu sou uma pessoa movida a objetivos. Então se não tem utilidade falar sobre algo eu não falo. Acho que não tem porque eu encher a cabeça dos outros com coisas que eles não podem resolver.

Eu costumava gostar de dirigir. Eu até viajava longas distâncias. Ia de Florianópolis a Montenegro sozinha. Mas depois do Burnout, nada mais foi como antes. Eu comecei a ficar com medo de dirigir. No início eu não conseguia nem chegar perto do carro, sentia uma ansiedade instantânea. Até minha respiração mudava. E olha que nem quando eu bati na traseira de um carro no trânsito eu senti isso. Muito estranho, não dá muito para descrever. Das vezes que eu consegui entrar e dirigir eu não conseguia andar mais que 1 km, e olhe lá. Eu ficava com medo de bater, não conseguia prestar atenção no que eu tinha que fazer, na sinalização, nos outros carros e nas pessoas. Era muita coisa. Me dava uma angústia horrorosa, eu sentia que não estava no controle do carro. Voltava pra casa como se tivesse assistido um filme de terror. Ansiosa, amedrontada e cansada.

Hoje, dia 09 de julho de 2025, depois de quase 3 anos de início dos “sintomas” ou melhor dizendo, da perda das minhas habilidades, eu estou me sentindo melhor um pouco. Parece que aos poucos eu vou sentindo algumas partes de mim voltando, mas é quase como um vulto do que eu era. Eu já consegui dirigir 30 km, e este foi o meu máximo até agora, mas ainda assim senti muita insegurança, diversas vezes fiquei com medo de perder o controle do carro, ansiosa, e cheguei muito perto de bater na traseira de um carro na sinaleira, pois não conseguia prestar atenção ao trânsito como um todo. Muito difícil. Ao voltar para casa eu estava esgotada. Tive que me deitar quando cheguei e acabei dormindo por 2 horas. Não consegui produzir nada de valor nos dois dias seguintes. Tentei diversas vezes sem sucesso.

Sinto que toda vez que tento voltar a fazer algo que fazia antes com alguma facilidade eu fico completamente sem energia e sem foco. É como se o meu TDHA tomasse o controle total do meu cérebro. Eu não consigo planejar nada, e se eu consigo planejar, não consigo nem começar a executar, a distração é quase que imediata. Claro que eu tenho tentado, diariamente, fazer um pouco mais. Mas tem dias que eu simplesmente não consigo. E eu sei que não adianta querer forçar e apressar as coisas também. Já percebi que quando eu me esforço mais do que eu dou conta eu perco a habilidade de novo. O mesmo acontece com minha habilidade de socialização.

Outro dia me forcei a almoçar com a minha amiga e vizinha e fiquei lá cerca de 2 horas. Foi muito bom, eu gostei de estar lá. Mas depois disso eu fiquei um dia inteiro sem sair na rua e no outro dia, saí só pra passear com os cachorros na mesma quadra. E já fiquei esgotada de novo. Eu não consigo nem imaginar como vai ser se eu tiver que morar com outras pessoas, seja onde for. Com muita gente, muitas conversas, rotina diferente e sem os meus pets. Eu não consigo ficar conversando e interagindo com as pessoas por muito tempo. Eu me canso, eu me irrito eu fico ansiosa, nervosa, insegura. Me faltam palavras para descrever como eu me sinto. Eu fico pensando, como é que eu vou fazer para que as pessoas entendam? Eu vejo que ninguém tem a dimensão do que aconteceu comigo. Talvez seja porque não me veem há quase 2 anos. E acho que é porque eu também não falo. Por isso resolvi começar a escrever. Aliás, faz tempo que eu tinha decidido fazer isso e nunca começava. Talvez a conversa de hoje tenha tido este único objetivo. Me instigar a escrever. Talvez algum dia alguém leia e entenda melhor, já que eu não consigo me comunicar como esperam que eu faça.

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